A curta história de um bebê

Comecei a escrever esse post há algum tempo, mas não conseguia dar continuidade e terminá-lo. Acho que dessa vez ele sai, mas se prepare, porque vai ser longo.No final de 2017, mais precisamente no dia 31 de outubro, no Hallowe’en, descobri minha segunda gravidez. Nós não estávamos tentando um segundo bebê (apesar de eu sempre imaginar que teria dois filhos), e foi uma grande surpresa pra gente. Passado o choque inicial, fui logo numa walk-in, fiz aquele mesmo teste de farmácia, e lá mesmo fiz os exames de sangue iniciais. Também liguei para a mesma clínica de midwives onde fiz o acompanhamento da minha primeira bebê e marquei minha primeira consulta.

Nessa consulta inicial, a midwife perguntou se eu gostaria de fazer uma ultra sonografia, a dating scan, e, obviamente, super ansiosa, disse que sim.

No dia marcado, fomos (eu e o marido), mas eu senti que tinha alguma coisa errada logo no início. O ar de seriedade da técnica era muito diferente da nossa primeira experiência. Tentamos perguntar o que ela estava vendo, mas ela simplesmente disse que nosso médico conversaria com a gente. Já saí de lá chorando, mas com esperança de não ser nada demais, de ser tudo coisa da minha imaginação.

Fui pra casa, e algumas horas depois, minha midwife ligou com a notícia. O bebê tinha parado de se desenvolver com 6-7 semanas. Eu não podia acreditar, isso era impossível! Não senti nada, certamente o exame estava errado. Chorei, pesquisei na internet, liguei pra midwife e pedi um exame que pudesse confirmar. Corri na clínica pra pegar o pedido, corri pro laboratório para colher o sangue, e chorei. Mas chorei muito. Isso foi numa sexta-feira, e como eu orei naquele fim de semana.

Pretendo escrever um outro texto com mais detalhes do que aconteceu da parte de exames, consultas… porque acho que pode ajudar alguém que está passando por isso aqui em Toronto. Aliás, isso é uma coisa que eu não entendia. Todos os médicos, midwifes, enfermeiras que me atenderam, me disseram que isso era uma coisa muito comum, muitas das gravidezes terminam em aborto espontâneo. Mas ninguém fala sobre isso. Eu mesma, na época, além dos meus pais, só contei para minha gerência no trabalho (porque precisei faltar alguns dias), e somente mais 3 pessoas. Das 3, uma já tinha passado por isso e as outras duas tinham pessoas muito próximas que também passaram.

Agora falando por mim: pra mim era muito duro falar sobre isso. Eu me perguntava o que eu tinha feito, o que eu não tinha feito; o que eu tinha comido, o que eu não tinha comido… porque na minha cabeça, obviamente isso aconteceu por causa de alguma coisa que eu fiz ou deixei de fazer. Foi muito difícil também, porque eu sempre imaginei ser mãe de dois. Eu queria muito que minha filha tivesse um companheiro pra vida. E isso acontecer perto das festas de fim de ano, certamente não ajudou. Eu não conseguia falar sem chorar, e também percebi que as pessoas não sabiam muito bem como reagir. Então, preferi simplesmente não comentar mais nada com ninguém, e guardar tudo pra mim.

Como eu nunca tinha passado por isso, e como eu nunca havia conversado sobre isso com ninguém, parecia que eu era a única mulher do mundo que tinha perdido um bebê (exagerada, né, mas os hormônios estavam à flor da pele, e apesar de saber que isso não era verdade, era assim que eu me sentia). Me senti muito sozinha, mas agradeço a Deus por isso ter acontecido depois de ter tido a minha primeira filha. Por ela eu tinha que levantar todos os dias, tocar a vida… me ajudou muito, porque a vontade era de me trancar no quarto e chorar. Por ela ser essa criança tão feliz, sempre me dando alegria. Também pelo privilégio de ter meus pais aqui comigo, de ter esse suporte que muitas mulheres expatriadas não tem. Tenho muita admiração pelas mulheres que passaram por isso, às vezes mais de uma vez, e continuam firmes no propósito de serem mães. São mulheres de uma força incrível, e talvez elas nem se deem conta.

Como falei no início, eu já tinha tentado escrever sobre essa perda antes, mas não conseguia terminar. A DPP estava programada para agora em junho (18 de junho pra ser mais específica). Na época que engravidei, eu me inscrevi em alguns sites, e agora começaram a chegar amostras grátis. A dor volta, sabe? Enquanto a gente está ocupada com as coisas do dia-a-dia, ela fica lá, escondidinha, guardadinha… mas ver essas coisinhas me fez pensar sobre o meu filho que eu não conheci, e acho que isso me deu o empurrãozinho que faltava pra terminar esse texto.

Alguns podem achar bobagem, mas hoje, depois de pensar muito sobre isso, cheguei a conclusão de que eu sou mãe de duas crianças. A diferença é que uma só ficou comigo por algumas semanas, mas um dia ainda vou conhece-la.

E talvez por isso a maioria das pessoas não fale sobre o aborto espontâneo. É uma dor muito grande, somente quem já passou por essa perda sabe. E é exatamente por esse motivo que achei importante escrever: Se você está passando por isso, você não está sozinha. Muitas mulheres já passaram (ou ainda vão passar) por isso, e conhecem a sua dor. E não, não foi nada que você fez ou deixou de fazer. Saiba também que muito provavelmente você vai engravidar de novo, e vai ter um bebê saudável. Não tenha medo de falar sobre isso: acontece, muito mais do que a gente imagina.

E antes de terminar, se você conhece alguém que está passando por essa situação, não diga que imagina o que ela está sentindo: a menos que você tenha passado por isso, você não faz a menor idéia do que ela está sentindo/ passando. E aproveitando a deixa, não fique perguntando aquela sua amiga quando ela vai ter filhos. Ou quando ela vai dar um irmãozinho pro filho dela. Você nunca sabe se ela engravidou e perdeu, e ela não precisa ser lembrada dessa dor, muito menos de mais pressão ( ou você acha que ela não pensa sobre isso? Além desse ser um assunto muito pessoal e você não ter nada com isso, né?).

Um beijo,

Paula

2 Resultados

  1. Bruna disse:

    Nossa Paulinha, nao sabia que vc tinha passado por isso! É minha amiga, com certeza vc é mae de duas criancas e que esta segunda hj em seu coracao e nas maos de Deus que ira guarda-lo(a). Que bom ter dividido esta historia, pois como vc falou mta gente passa por isso e fica perdida sem saber o que fazer, no que se apoiar. Fica bem! Beijo grande!

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